Do Tempo das Descobertas: Leituras de Dezembro de 2009
Do Saída de Emergência, este post sobre leituras recentes e promessas futuras. Gostei sobretudo de saber um pouco mais sobre o autor da série Flashforward, que já referi aqui, e muito me surpreende que não esteja a ser acarinhada pelos americanos (o que é se passa? Ficar-se pela primeira temporada? Nem pensem nisso!)
" Leituras de Dezembro de 2009
Foi-me recomendado pela Gi, a mulher do David Soares, com os maiores elogios à prosa e à história. E tudo se confirmou, este livrinho é um verdadeiro tesouro. Ouvi-o em versão áudio e, maravilhosamente lido, nada se perdeu. Considerado uma obra-prima da literatura de horror, é a história de dois rapazes de treze anos, James e William, e do mal que abraça a sua cidadezinha do interior com a chegada de um estranho circo ambulante. O que faríamos se os nossos mais secretos desejos fossem tornados realidade pelo misterioso chefe do circo? Ray Bradbury, numa voz maravilhosa, fala-nos de inocência, coragem, amizade, reencontro. Um verdadeiro hino à melhor literatura fantástica.
Land of the Headless de Adam Roberts
No futuro distante a humanidade levou a religião e as desuniões dela resultantes para o espaço. E, num planeta onde a sociedade segue de forma fundamentalista o Antigo Testamento e o Corão, um poeta é acusado de violar uma mulher. Julgado culpado, é sentenciado à pena máxima: a decapitação. Depois de lhe ser removida a cabeça é equipado com uma válvula no pescoço (por onde pode respirar e alimentar-se), um ordenador (que guarda a sua personalidade e memórias), e equipamento sensorial (visão e audição básicas). Exemplarmente castigado, pode seguir a sua vida. Como seria de esperar, e é essa a sua verdadeira punição, carrega um terrível e manifesto estigma. A sua única forma de sobreviver é alistar-se no exército e seguir para a frente de combate enquanto planeia a vingança contra o homem que acredita ser o responsável pela sua perdição. Land of the Headless tem uma prosa sem mácula e está repleto de grandes ideias. É uma escalpelizarão sublime da condição humana, uma sátira sobre fundamentalismo religioso, intolerância, crueldade, estupidez, mas também uma tocante história de amor, sacrifício e idealismo.
Adorava publicar este gigante da literatura fantástica. Mas não sou assim tão masoquista - a Colecção Bang! já tem suficientes gigantes a vender pouco, como é o caso de Michael Moorcock, Fritz Leiber ou Mervyn Peake. Recomendo no entanto a leitura desta fantasia científica onde Jack Vance, através de curtas histórias interligadas, nos transporta para um futuro muito distante. Tão distante que a Terra se prepara para ser engolida pelo sol vermelho e gigante. Uma Terra moribunda onde magia e ciência significam a mesma coisa. The Dying Earth está um pouco datado – afinal, já tem 60 anos – mas Jack Vance escreve tão bem que este clássico envelheceu com elegância e graça.
Em Dezembro li Astérix - O Regresso dos Gauleses, Lucky Luck - A Corda do Enforcado, Tintim – As Jóias da Castafiore e Spirou e Fantásio – A Máscara Misteriosa. Leituras um pouco clássicas mas maravilhosamente intemporais. Na última feira do livro completei a minha colecção do Astérix e na próxima deverei completar as restantes (pois é, as feiras dos livros são oportunidades para todos). Também li o novíssimo Blake e Mortimer – A Maldição dos Trinta Denários. Não é um original de Edgar P. Jacobs, mas é muitíssimo bom, e estes dois aventureiros continuam a ser as minhas personagens favoritas de BD.
Mas há mais BD para além da europeia, e a americana está a viver o que penso ser uma autêntica era dourada. Argumentistas inteligentes e ilustradores talentosos surgem nas mais variadas chancelas com novidades surpreendentes a todos os níveis. Este mês fiquei a conhecer The Programme onde Peter Milligan nos apresenta um mundo adulto onde a origem dos super-heróis está ligada à Segunda Guerra mundial e à posterior Guerra Fria. O desenho é de C. P. Smith e, se o seu traço primeiro se estranha, depois entranha-se totalmente. Estou desejoso em deitar as mãos ao segundo volume desta série. Também li o 5º volume de Tom Strong, uma das muitas personagem criadas por esse génio artístico chamado Alan Moore (cujo romance, A Voz do Fogo, a Saída de Emergência terá o prazer de republicar no último trimestre de 2010). Tudo o que li até agora de Alan Moore é, no mínimo, muito bom. E para os fãs de pulp fiction, os livros de Tom Strong são uma delícia para os olhos e para o coração.
Televisão
Devorei os 10 episódios de Flashforward, a série inspirada no livro de Robert J. Sawyer (que vai sair na Colecção Bang! em Março deste ano). O livro é muito interessante, original e inspirador, e a série, apesar de todas as inevitáveis mudanças, também é excelente. Recomendo sem reservas apesar do público americano não estar a corresponder à série e esta estar em risco, segundo consta, de se ficar pela primeira temporada!
Também ando a rever, poooouco a poooouco, toda a série dos X-Files. Vou na quarta temporada, talvez a melhor até agora. Envelheceu muito bem apesar de ser uma série de género (fc, fantasia e horror).
Outra série que deve tudo aos livros é a Sharpe, baseada na obra de Bernard Cornwell. Com Sean Bean no papel de Richard Sharpe, é de visionamento obrigatório para quem se interessa pela obra de Cornwell ou pelas Guerras Napoleónicas (ou apenas por uma série histórica muito bem interpretada e produzida).
Um abraço e votos de boas leituras (e não só) para Janeiro de 2010
Luis CR [editor] "